. Atenção Psicossocial
. Trabalho em rede
. Laço social
. Equipe Interdisciplinar
. Equipe Multidisciplinar
. Equipe Transdisciplinar
. Instituição enquanto exceção
. A construção do caso clínico
. A Reforma Psiquiátrica
 
. Atenção Psicossocial:

. Com a noção de Atenção Psicosssocial, procura-se marcar um novo paradigma de "cuidado" em saúde mental, substitutivo à abordagem exclusiva e tradicionalmente psiquiátrica. A palavra ‘atenção’ parece substituir o termo "clínica", procurando produzir uma ampliação do campo de intervenção para além dos sintomas psicopatológicos e introduzindo uma outra dimensão do ‘cuidado’ que se pretende dispensar aos portadores de sofrimento mental.
. O campo da Atenção Psicossocial, opera a partir da percepção que a existência humana implica as dimensões psíquica (subjetividade e criatividade) e social (cidadão de direito), e que ambas devem ser abordadas de forma a serem reintegradas de maneira mais abrangente e menos excludente.

. Ref. DELGADO. P (org.). O campo da Atenção psicossocial. Anais do Primeiro Congresso de Saúde Mental do Rio de Janeiro,RJ: Te Corá, 1997.

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. Trabalho em rede:

. Rede é um modelo contemporâneo através do qual se pensa a organização social, funcionando como uma estrutura transversal às instituições de saúde, educação, etc. Tendo como referência a forma como se estabelece na internet, o trabalho em rede opera com a idéia de que as pessoas possam circular de um lado a outro, de uma equipe a outra, de um operador a outro, sem um trajeto previamente definido.
. No caso específico da Saúde Mental, o sujeito, para além da instituição de tratamento, deve, neste circuito,  percorrer sua trilha em busca dos subsídios e conexões que o permitam ampliar os espaços de transferência, de circulação social e produção da subjetividade. Cabe às instituições facilitar este trajeto e as formas de laço nele inventadas.

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. Laço Social:

. A concepção de laço social, em psicanálise, situa-se no ensino de Lacan a partir de 1969-70, e está articulada à teoria do discurso deste autor. Tal concepção surge dentro de uma nova perspectiva da teoria lacaniana, demarcada pela relação primitiva entre o significante e o real, iniciando um questionamento à supremacia do simbólico. Neste momento há uma referência ao discurso não como uma enunciação efetiva, mas sim como uma articulação significante como forma de tratar o gozo, o qual é índice do real que resta fora da cadeia significante, nomeado por Lacan como objeto a. Assim, a teoria dos discursos implica operar com uma perda, um resto não simbolizável, colocando-o em funcionamento com a linguagem. Trata-se da estruturação simbólica da relação do sujeito com o campo do Outro, na qual estabelece-se um campo discursivo que inclui um laço com o real, instaurando um modo de funcionamento da linguagem entre os seres falantes. Portanto, se o discurso para Lacan é laço social é porque ele incorpora algo que resta ou escapa à ordenação simbólica da cultura, incluindo o que é heterogêneo ao social, estabelecendo aí um laço que permite circular na sociedade, a qual será composta por vários laços sociais.

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. Equipe Interdisciplinar:

. A equipe interdisciplinar é criada frente à necessidade de se responder à situação de fragmentação do saber presente nas diversas ciências, uma característica proveniente do positivismo. Sobretudo a partir do século XIX houve um aumento no número de disciplinas cientificas que fizeram culminar em uma maior fragmentação do saber.
. A interdisciplinariedade é entendida por Vasconcelos (2002) como uma questão estrutural que promove a horizontalização das relações de poder entre as disciplinas que estão enredadas em um mesmo objeto de estudo, o que significa, também, em uma equipe interdisciplinar a necessidade de uma reciprocidade e enriquecimento mútuo.
. A interação de saberes é possibilitada frente à relação de diversas disciplinas através de atitudes como o aprimoramento e conhecimento de outros campos de saber para que se possa construir um projeto interdisciplinar. O projeto interdisciplinar é utilizado inserido em um plano de trabalho como uma alternativa de intervenção, uma vez que conta com diversos olhares frente à mesma questão possibilita-se uma busca mútua com o fim de esclarecer os problemas novos e ocultos relativos ao serviço prestado.

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. Equipe Multidisciplinar:

. Equipe que conta com recursos provenientes de várias disciplinas para cumprir um trabalho determinado, e que, todavia não exige uma coordenação. O objetivo da equipe multidisciplinar é solucionar um problema que demanda informações de especialidades ou setores do conhecimento em âmbitos mais restritos, elas, entretanto não são modificadas ou enriquecidas. Consiste em uma equipe que estuda um mesmo objeto sob diferentes ângulos, sem ter propriamente estabelecido um acordo prévio acerca dos métodos e conceitos a serem utilizados.
. Vasconcelos (2002) considera a equipe multidisciplinar aquela que conta com diversos profissionais, o que não é característica especifica dessa equipe, com a contrapartida de que os mesmos trabalham isoladamente em suas disciplinas, sendo essa característica o que a diferencia.

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. Equipe Transdisciplinar:

. O que diferencia essa equipe se concentra no que se refere à coordenação. É uma equipe que conta com profissionais provenientes de diferentes disciplinas, entretanto, nessa perspectiva, há uma coordenação da equipe visando múltiplos objetivos.
. Na equipe transdisciplinar existe uma ação que ultrapassa o conceito de interdisciplinaridade. É imprescindível um confronto e flexibilização das fronteiras convencionais das especialidades nessa equipe, no sentido de democratizar as relações de poder que se estabelecem, visando à criação de novos tipos de profissionais que possam contar com uma atuação mais extensa.
. A equipe transdisciplinar caracteriza-se por, logo após a identificação de uma problemática, buscar uma resposta partindo de princípios partilhados e conceitos fundamentais, esforçando-se para uma decodificação recíproca das significações, das diferenciações e afluências desses conceitos. Dentro dessa perspectiva há o objetivo de gerar uma aprendizagem mútua, uma fecundação, que vá alem de uma simples mistura de disciplinas, mas que possibilite uma recombinação harmônica de elementos internos de cada uma delas.

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. A Instituição enquanto exceção:

. Trata-se de fazer com a instituição seja sempre secundária. Suas regras devem atender a um projeto de cura dado pelo sujeito. É o sujeito quem organiza a rede. A idéia de rede é uma para cada sujeito. É a clínica que organiza o planejamento. A instituição, se necessário, deve mudar e subverter suas regras. Porém, trata-se de uma subversão que não se torna regra. Não se podem subverter as normas institucionais para todos, não se trata de uma anarquia, porém as regras podem ser flexíveis para abrigar particularidades clínicas.
. Ao dar lugar à palavra do sujeito, estamos no tempo de uma clínica de exceção, da instituição enquanto exceção, ou seja, estamos tomando a instituição enquanto um lugar que pode responder, de maneira diferente e única, à demanda reiterada do sujeito. Esse enquadre só é possível à medida que se reconhece o sintoma para além de uma manifestação do organismo, pra além de uma mera resposta biológica ou de um comportamento a ser normalizado

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. A construção do caso clínico:

. A construção do caso clínico implica em que a equipe assuma uma posição de não saber em relação ao paciente. A construção do caso clínico não é um exercício acadêmico e segundo Carlo Viganò é uma obra de alto artesanato, onde o saber técnico-científico entra apenas como uma pré-condição. Neste sentido, só quando o paciente começa a falar de sua história é que aprendemos o caminho de sua subjetividade. Isso implica em operar com o saber do paciente e não um saber sobre o paciente. Significa criar um vazio do tempo clínico, que não é um vazio de assistência, mas um vazio de saber, permitindo que o paciente faça suas próprias perguntas sobre o seu mal estar. Desta forma, construir o caso clínico é colocar o paciente em trabalho, registrar seus movimentos e recolher as passagens subjetivas que contam, para que a equipe esteja pronta para escutar a sua palavra quando esta vier. É compor a história do sujeito e de sua doença delimitando os fatores que precipitaram a doença, buscando reconhecer os pontos mortíferos, os pontos de repetição, os tratamentos realizados, e as saídas que o próprio sujeito tem desenvolvido para lidar com o seu sofrimento. A construção serve para operar o deslocamento do sujeito dentro do discurso. E necessário reativar a relação do sujeito com o Outro, de forma que essa relação possa se sustentar na realidade.

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. A Reforma Psiquiátrica:

. A Reforma Psiquiátrica no Brasil constitui um movimento histórico e político que pautou-se na desinstitucionalização e desconstrução dos manicômios e dos paradigmas que os sustentaram. Discussão que ganhou expressão social, mobilizando várias esferas da sociedade, pretendeu a substituição progressiva dos manicômios por outras práticas terapêuticas e outros serviços de atendimento ao portador de sofrimento mental. A reforma ressaltou a cidadania do portador de sofrimento mental e apontou os inconvenientes do modelo que fundamentou os paradigmas da psiquiatria clássica, quando legitimou o Hospital como única alternativa de tratamento, propiciando a exclusão e a cronificação dos portadores de sofrimento mental no país. As Políticas de Saúde, principalmente no âmbito municipal, já comportam os princípios da Reforma Psiquiátrica, e versam sobre a proteção e o direito das pessoas portadoras de sofrimento mental, redirecionando o modelo assistencial em Saúde Mental. Cabe destacar que o movimento da Reforma Psiquiátrica não se restringe à mera substituição do Hospital por outros aparatos de cuidados externos, mas antes envolve questões de caráter técnico-administrativo-assistencial, envolvendo ainda transformações do campo jurídico-político e sociocultural.

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